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terça-feira, julho 18, 2006

Os Veados

Muitas vezes me perguntam para que andamos nós, biólogos, a estudar estas coisas da Biologia!O tema actual da auto-estrada A24 traz novamente estas questões, onde vêm à tona as interrogações do costume. Desta vez surge a questão: para que precisamos nós de ter corredores ecológicos? Será assim tão importante uma colónia de lobos ou veados, para que se construam corredores para que eles possam passar pela A24 sem serem (passe a redundância) passados a ferro!?Fora as várias implicações ecológicas e de cadeia trófica onde estes animais estão incluídos e que, por vezes, não se tornam tão apelativas para que estruturas como estas sejam construídas, as aplicações na saúde humana ou de benefício para os humanos são sempre mais convincentes.É o caso da notícia publicada hoje na “Edit on Web” onde podemos ler e descobrir aspectos interessantes sobre o que têm em comum as hastes dos veados e as próteses biónicas (http://www.editonweb.com/Noticias/Noticias.aspx).



O desenvolvimento de próteses biónicas implica que a prótese, directamente aplicada no osso, possa penetrar através da pele. No entanto, estas próteses transcutâneas representam um risco acrescido de infecção crónica na interface entre o implante e a pele. Com o objectivo de ultrapassar este problema, investigadores britânicos olharam para um exemplo natural de uma estrutura óssea que atravessa a pele sem que tal represente qualquer risco para os animais: as hastes dos veados. As conclusões a que chegaram permitiram-lhes utilizar uma estratégia semelhante para aplicação de pequenas próteses em humanos e o sucesso parece garantido.
A aplicação de próteses directamente no osso e através da pele cria uma fenda na principal barreira protectora do corpo humano: a pele. De facto, nos seres humanos o único exemplo de uma estrutura com projecção exterior e que atravessa a pele são os dentes. Por outro lado, a utilidade de tais próteses requer também que estas possam mover-se sem que tal afecte a integridade da pele envolvente.Na Natureza podem encontrar-se análogos de próteses que atravessam a derme (próteses transcutâneas), sendo as hastes dos veados e de outros membros da família dos Cervídeos um destes exemplos. Estas estruturas ósseas, normalmente presentes nos machos, crescem durante a passagem para a idade adulta, ligam-se directamente aos ossos do crânio e perfuram a pele. Estes factos indicam que a Natureza desenvolveu mecanismos biológicos que permitem que tais estruturas atravessem a pele, mantendo esta barreira estável relativamente ao risco de se desenvolverem infecções.Com o objectivo de desenvolver próteses directamente ligadas ao osso e que atravessem a pele, um grupo de investigadores britânicos procedeu ao estudo qualitativo e quantitativo do desenvolvimento das hastes de veados, usando este modelo biomimético para o desenvolvimento de um novo design de próteses de amputação intraósseas e transcutâneas, demonstrando como os aspectos de um fenómeno que naturalmente ocorre com sucesso pode ser recriado artificialmente e aplicado ao desenvolvimento de amputações prostéticas.A análise das hastes em crescimento de veados revelou que a morfologia deste tecido ósseo é altamente porosa e a dimensão dos poros é maior do que no caso de tecido ósseo removido das hastes de veados adultos. Também, a interface entre a pele e o osso da haste revelou ser apertada e que a ligação é feita por longas fibras que ancoram as células da pele directamente às células do osso.Por outro lado, os autores do trabalho, publicado no Journal of Anatomy , estudaram ainda a estrutura mecânica do tecido da haste em crescimento, tendo verificado que este tem rigidez progressiva, aumentando desde a extremidade em crescimento até à base da haste.Com base nos resultados obtidos para as hastes dos veados, os autores efectuaram então as modificações correspondentes nas próteses de amputação. Assim, à prótese normalmente utilizada adicionaram uma pequena estrutura revestida, o que permitiu conferir rigidez diferenciada ao longo do implante. Também, a prótese foi revestida com o principal composto mineral do osso, a hidroxiapatite, que é um material altamente poroso e biocompatível. Este revestimento foi incluído para aumentar a ligação da pele à prótese permitindo, deste modo, que a superfície entre o implante e os tecidos dérmicos fique selada.Um revestimento de carbono semelhante à estrutura do diamante foi também aplicado à superfície externa do implante. Este revestimento mimetiza a alteração morfológica observada no tecido ósseo das hastes entre a parte exterior - na qual a pele não adere - e a parte interior - em que uma superfície apertada entre pele e osso foi observada.A aplicação destas próteses modificadas em animais foi realizada com sucesso o que permite aos autores concluírem que o estudo realizado com as hastes dos veados permitiu descortinar os requerimentos básicos a que aparelhos desenhados para atravessarem a pele devem obedecer. Este tipo de implantes começou já a ser testado em ensaios clínicos e, de acordo com os autores, com resultados bastante encorajadores.”