Nós e os outros...
A avaliação interpessoal está inerente a todos os seres humanos, ou seja, podemos dizer que é uma característica intrínseca. Desde pequenos que avaliamos os outros mal nos são apresentados, mal nos chamam a atenção. As crianças são conhecidas pela sua sinceridade e podem tornar-se, muitas vezes, críticos eminentes numa população escolar. Quem não se lembra de, durante a escola, haver sempre uma ou outra criança que era catalogada só porque tinha uns óculos grandes, só porque usava roupa esquisita, ou porque usava aparelho nos dentes. A marginalização era constante e diz-se que muitos traumas de infância podem advir destas épocas. Depois vamos crescendo e dando valor a outros parâmetros mas continuando sempre a avaliação interpessoal. Seguem para anos mais avançados a nível escolar e daí recomeçam as marginalizações só porque alguém não anda à moda, alguém vem de um meio mais pequeno, do campo, da aldeia… o que seja… Depois os valores alteram-se e, quando em tempos universitários, os padrões de avaliação passam a ser outros. Já damos mais valor aos diferentes, aos que têm uma realidade completamente diferente da nossa. É a ávida vontade de conhecer realidades afastadas das nossas.
Mas à medida que vamos crescendo, e nesta fase o crescimento deixa de ser corporal e passa a ser mental, cognitivo, vamos alterando a nossa maneira de pensar. A catalogação passa muitas vezes a ser entre características como a futilidade, o gosto pela cultura, os tipos de música, os livros, ou a ausência deles, a religião, a controvérsia.
Mas, ao fim de tudo, qual será a distinção que nós procuramos entre as pessoas que nos rodeias? Não será apenas importante, ou mesmo essencial, o facto de se saber se essa pessoa é “boa pessoa” ou “má pessoa”? Será que só isso não nos basta para posteriormente aprendermos uns com os outros que a diversidade é que conta?
Costumo usar como exemplo a quantidade de gente que gosta das músicas do Tony Carreira, cantor que encheu o teatro Olympia, em Paris, em 2000. Será que essas pessoas, só pelo facto de gostarem de um género musical que não é do meu agrado, são pessoal mais mal formadas, más, mesquinhas? Mas são muitas vezes catalogadas e afastadas ou impedidas de entrar num determinado círculo de amigos só por terem estes gostos. Só e apenas porque são catalogadas ao início.
Eu, sinceramente, prefiro ter como amigo/a uma pessoa desprendida, sem muito “tempo” para culturas, pois tem outros interesses que podem ser considerados por muitos fúteis, mas boa pessoa do que pessoa muito cultural, e que no fundo, de boa pessoa tem muito pouco.
Não sei se se revêem nesta minha descrição, mas estava a borbulhar aqui dentro desde ontem!
4 Comments:
Ah ganda post!!!
depois da nossa conversa de ontem, isto não me saiu da cabeça!!e pimba, seguiu de manhã um post!
Muito pertinente a tua reflexão.
Um juízo de valor inicial é humano e inevitável.
Há sempre uma procura no outro de interesses e experiências comuns.
Mas há muito mais para além disso.
Posso conhecer uma pessoa, ela ser muito idêntica a mim e não haver qualquer empatia.
Felizmente, porque acho que cada pessoa tem o seu quê para partilhar e é com a troca que evoluímos como pessoas, tenho amigos de todas as cores políticas, de todos os clubes de futebol, de várias religiões, de todas as idades, e alguns gostam de Tony Carreira.
Desde que haja respeito, tolerância podemos ter relações saudáveis com todo o tipo de pessoas, sem que umas sejam mais iguais do que outras, sem que uns se achem melhores do que os outros.
Ainda bem que não gostamos todos do mesmo e podemos beneficiar com as nossas diferenças, desde que haja uma atitude adulta e aberta - isso é o mais difícil.
Bjs
As crianças são realmente sinceras mas, por vezes, podem ser um pouco cruéis. Mesmo assim, são o melhor do mundo.
Ontem falámos um pouco sobre este tema. E, como te disse, odeio a falsidade e as pessoas que vivem das aparências. Tenho, até, alguma dificuldade em lidar com essas pessoas e às vezes adopto uma atitude de grande indiferença para com elas.
Conviver com "gente boa e sã", independentemente da cor, sexo, idade, religião, estatuto social... é realmente muito mais enriquecedor do que conviver com gente dita "culta", sem qualquer tipo de valores.
Esse borbulhar teve a ver com o assunto que falámos ontem, ao final da noite?
Pena é de quem não tem valores e formação (ou pelos menos que os terá esquecido), tal como os que tu recebeste dos teus pais e que foste cultivando e refinando ao longo dos anos.
É certo que nem sempre podemos criar juízos de valor sobre as pessoas que acabamos de conhecer mas também é verdade que há pessoas, que mal nos são apresentadas, sabemos que poderemos contar sempre com elas e outras que, mesmo com muitos anos de convivência, nunca iremos contar com elas e apenas iremos lidar (se assim tiver de ser), de forma cordial.
O que interessa é o verdadeiro fundo da pessoa, apesar de todas as diferenças que possam existir.
Um grande beijo, AMIGA!
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